Segunda Série Ginasial.
Nova professora de desenho. Dona Lurdes Brunetta, estatura média, corpo escultural, cabelos castanho escuros, pele branca rosada e sedosa, dentes de marfim, uma deusa. Fato inédito num seminário com cerca de 80 garotos e vários padres. O elemento feminino, até então, só era visto na cozinha ou nas missas dominicais na matriz.
Dona Lurdes seguiu a mesma linha de desenho do ano anterior: o geométrico, porém, com a liberdade de cada um colorir a seu modo. Desta vez, eu já tinha uma caixa de lápis de cor com 12 unidades da mesma John Faber.
Com essa profusão de cores, eu viajava para o mundo da fantasia sem barreiras. Compensava no desenho todas as minhas frustrações, e as das demais matérias. Havia, por parte dos padres, um estímulo velado para competir um com o outro, para ver quem era o melhor em todas as matérias. Competição sadia, obviamente. Possibilitava o crescimento cultural, o estímulo ao conhecimento, o empenho maior diante das dificuldades. Desenho e música eram a minha salvação. Demais matérias, eu era razoável, mas matemática... Péssimo! Acho que os professores me deixavam passar de ano com pena de mim.
Será que Picasso, Van Gogh ou Portinari também eram ruins de matemática? Michelangelo e Da Vinci, sei que não eram. Mas naquela época, eu nem sabia quem eles eram, e nem que eles existiam. Daí a razão de eu achar que eu era gênio, "pero no mucho"... Quase!... Hummm... Já tinha minhas dúvidas.
Mas... A classe toda já me notava, mas só por causa disso. Um dos colegas, o Berté, um dia, dissera-me que eu tirava notas melhores que ele em desenho porque eu tinha lápis melhores. Não tive dúvidas. Desafio aceito. Emprestei-lhe meus lápis. Ahhh... Assim mesmo, ele não conseguiu nota melhor que a minha. Não bastava ter lápis melhores. Vejam quanta idiotice na cabecinha pequena de dois "piás", um querendo ser melhor que o outro.
Muito tempo depois, encontrei Berté, comerciante bem sucedido e, ao recordar velhos tempos, comentei o fato acima, mas ele disse qua não se lembrava de nada. Disse-me que adorava pintura e colecionava obras de arte. Mas... Ele não se manifestou a respeito da minha obra. Não fez menção de comprar. Acho que não me perdoou por não ter me superado no desenho. Ele era um dos primeiros alunos da classe.
Não me contentava com os oito ou nove que a professora me dava. Eu queira o dez. Esse dez não vinha. O ano acabou, e o de não veio. Dona Lurdes não foi capaz de entender minha genialidade... Aquela incompetente. Acho que ficou despeitada.
Aqui estão alguns dos desenhos da segunda série:
Legal, gostei dos motivos geométricos. Interessante como as cores já tinham alguma semelhança com as que você usaria mais tarde nos quadros não geométricos. A praia e o barco estão lindos!
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