Na época, começo da década de 60, era febre "estudar para padre ou freira". Eu aderi a essa febre. Queria ser padre (olahe de novo a merda que ia dar).
E no começo de fevereiro de 1962, lá fui eu para o seminário de Ibicaré (SC), então com 12 anos, quase 13. Quase adolescente, baixinho (Van Gogh, Picasso e Portinari também eram), arredio, tímido. Fiz avaliação para começar o primeiro ano do ginásio (no meu tempo tinha curso ginasial). Meu Deus! Não entendi nada do que os professores me perguntaram! Fui terminar o quarto ano primário no colégio local das freiras, pois no seminário só tinha o curso ginasial.
No colégio das freiras, não tínhamos aula de desenho. Todas as matérias eram muito difíceis. Acompanhava com muita dificuldade. Deixei de ser o quase gênio. Descobri que o gênio tinha ficado na Secção São Miguel, comunidade onde morava (ainda mora minha família).
Sentía-me só, isolado. Não era ninguém. Ninguém reconhecia em mim o geniozinho das cores. Pra piorar ainda mais a situação, minha timidez me impedia de fazer amizades. Às vezes, sentado no jardim, à sombra de um coqueiro olhando o trem passar pelo Vale do Rio do Peixe, eu chorava. Tudo era estranho, e ninguem me dava bola. Nem bola eu jogava. Assim, eu descobri que eu não era nada, ninguem, um pobre diabo cheio de complexos, incapaz de tudo, de fazer amizades, de aprender, jogar bola. Nas aulas de português, eu não sabia sequer o que era verbo. Matemática não passava de 2+2 e 2x2. De gênio metido a semi-analfabeto insignificante, foi tamanha derrocada que, se eu conhecesse Coca-Cola na época, tomaria um porre.
Com muita dificuldade, consegui passar de ano. Passei "raspando", mas passei.
No ano seguinte comecei o curso ginasial, primeira série. Na extensa grade de matérias, lá estava o Desenho. O professor, um padre holandês, Pe Sheng. Alto, magro, bem-humorado, habilidoso, sarcástico, sutil, afetuoso e cínico, foi conquistando minha confiança.
Na primeira aula de desenho, quadriculou a lousa, desenhou pouco a pouco uma figura geométrica. Nós o acompanhávamos passo a passo. De repente, um elefante. Coisa estranha. Não era nada disso que eu sabia fazer. Meu desenho ficou igual ao dos demais. Notei que tinha muita gente bem melhor que eu. O geniozinho acabava de ser superado.
Esse é o desenho, refeito algum temo depois com tinta guache. O defeito é da época.
Adoreiii O elefanthinHoO ! :D
ResponderExcluirArtista#
É meu caro amigo e colega ... sei o que passou, temos histórias parecidas, também passei por isso, eu .... com 12 anos, quase treze eu fui por vontade (induzida) própria de São Paulo para Itajuba, Sul de Minas. Meu pai levou me na Rodoviária, seria minha primeira viagem (interestadual, sozinho, sem saber como seria o meu lugar de destino. Ao chegar encontrei o Pe.Tarcísio a minha espera na Rodoviária, mas no Seminário, IPN, não havia ninguém, estava vazio, apenas um outro aluno (não me lembro o nome ) me aguardava para no dia seguinte encontrar os alunos que estavam em Delfim Moreira, com o Pe A. Cortês no período de adaptação (final de férias).
ResponderExcluirChegando no dia seguinte, me adaptei logo a turma e o ambiente era familiar, montanhas, riachos, córregos, cachoeiras... era o cenário de minha infância na minha cidade natal, não aquele São Paulo de concreto que havia deixado para trás, isto me alegrou muito.
Mas desculpe, fugi do tema, parabéns amigo, trilhou bem seu caminho e hoje colhe seus frutos. E o sangue artístico continua correndo em suas veias!