quinta-feira, 24 de março de 2011

As Cores de Uma Trajetória - Capítulo 5

Segunda Série Ginasial.

Nova professora de desenho. Dona Lurdes Brunetta, estatura média, corpo escultural, cabelos castanho escuros, pele branca rosada e sedosa, dentes de marfim, uma deusa. Fato inédito num seminário com cerca de 80 garotos e vários padres. O elemento feminino, até então, só era visto na cozinha ou nas missas dominicais na matriz.

Dona Lurdes seguiu a mesma linha de desenho do ano anterior: o geométrico, porém, com a liberdade de cada um colorir a seu modo. Desta vez, eu já tinha uma caixa de lápis de cor com 12 unidades da mesma John Faber.

Com essa profusão de cores, eu viajava para o mundo da fantasia sem barreiras. Compensava no desenho todas as minhas frustrações, e as das demais matérias. Havia, por parte dos padres, um estímulo velado para competir um com o outro, para ver quem era o melhor em todas as matérias. Competição sadia, obviamente. Possibilitava o crescimento cultural, o estímulo ao conhecimento, o empenho maior diante das dificuldades. Desenho e música eram a minha salvação. Demais matérias, eu era razoável, mas matemática... Péssimo! Acho que os professores me deixavam passar de ano com pena de mim.

Será que Picasso, Van Gogh ou Portinari também eram ruins de matemática? Michelangelo e Da Vinci, sei que não eram. Mas naquela época, eu nem sabia quem eles eram, e nem que eles existiam. Daí a razão de eu achar que eu era gênio, "pero no mucho"... Quase!... Hummm... Já tinha minhas dúvidas.

Mas... A classe toda já me notava, mas só por causa disso. Um dos colegas, o Berté, um dia, dissera-me que eu tirava notas melhores que ele em desenho porque eu tinha lápis melhores. Não tive dúvidas. Desafio aceito. Emprestei-lhe meus lápis. Ahhh... Assim mesmo, ele não conseguiu nota melhor que a minha. Não bastava ter lápis melhores. Vejam quanta idiotice na cabecinha pequena de dois "piás", um querendo ser melhor que o outro.

Muito tempo depois, encontrei Berté, comerciante bem sucedido e, ao recordar velhos tempos, comentei o fato acima, mas ele disse qua não se lembrava de nada. Disse-me que adorava pintura e colecionava obras de arte. Mas... Ele não se manifestou a respeito da minha obra. Não fez menção de comprar. Acho que não me perdoou por não ter me superado no desenho. Ele era um dos primeiros alunos da classe.

Não me contentava com os oito ou nove que a professora me dava. Eu queira o dez. Esse dez não vinha. O ano acabou, e o de não veio. Dona Lurdes não foi capaz de entender minha genialidade... Aquela incompetente. Acho que ficou despeitada.

Aqui estão alguns dos desenhos da segunda série:








domingo, 6 de março de 2011

Concorra a um desenho!!







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Os desenhos medem 29,7 x 42,0 cm, feitos em papel Canson e lápis aquerelável.
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quinta-feira, 3 de março de 2011

As Cores de Uma Trajetória - Capítulo 4

Na época, começo da década de 60, era febre "estudar para padre ou freira". Eu aderi a essa febre. Queria ser padre (olahe de novo a merda que ia dar).


E no começo de fevereiro de 1962, lá fui eu para o seminário de Ibicaré (SC), então com 12 anos, quase 13. Quase adolescente, baixinho (Van Gogh, Picasso e Portinari também eram), arredio, tímido. Fiz avaliação para começar o primeiro ano do ginásio (no meu tempo tinha curso ginasial). Meu Deus! Não entendi nada do que os professores me perguntaram! Fui terminar o quarto ano primário no colégio local das freiras, pois no seminário só tinha o curso ginasial.


No colégio das freiras, não tínhamos aula de desenho. Todas as matérias eram muito difíceis. Acompanhava com muita dificuldade. Deixei de ser o quase gênio. Descobri que o gênio tinha ficado na Secção São Miguel, comunidade onde morava (ainda mora minha família).


Sentía-me só, isolado. Não era ninguém. Ninguém reconhecia em mim o geniozinho das cores. Pra piorar ainda mais a situação, minha timidez me impedia de fazer amizades. Às vezes, sentado no jardim, à sombra de um coqueiro olhando o trem passar pelo Vale do Rio do Peixe, eu chorava. Tudo era estranho, e ninguem me dava bola. Nem bola eu jogava. Assim, eu descobri que eu não era nada, ninguem, um pobre diabo cheio de complexos, incapaz de tudo, de fazer amizades, de aprender, jogar bola. Nas aulas de português, eu não sabia sequer o que era verbo. Matemática não passava de 2+2 e 2x2. De gênio metido a semi-analfabeto insignificante, foi tamanha derrocada que, se eu conhecesse Coca-Cola na época, tomaria um porre.


Com muita dificuldade, consegui passar de ano. Passei "raspando", mas passei.


No ano seguinte comecei o curso ginasial, primeira série. Na extensa grade de matérias, lá estava o Desenho. O professor, um padre holandês, Pe Sheng. Alto, magro, bem-humorado, habilidoso, sarcástico, sutil, afetuoso e cínico, foi conquistando minha confiança.


Na primeira aula de desenho, quadriculou a lousa, desenhou pouco a pouco uma figura geométrica. Nós o acompanhávamos passo a passo. De repente, um elefante. Coisa estranha. Não era nada disso que eu sabia fazer. Meu desenho ficou igual ao dos demais. Notei que tinha muita gente bem melhor que eu. O geniozinho acabava de ser superado.

Esse é o desenho, refeito algum temo depois com tinta guache. O defeito é da época.